sexta-feira, 5 de novembro de 2010

PRESENÇA - Ari Pinheiro

(Foto: Ari Pinheiro)
PRESENÇA - Ari Pinheiro

Porque apesar, amor, de não estares aqui
de fato e de direito,
estás presente em cada partícula cósmica
do micro-universo dos meus dias;
em cada nano-partícula ativada
pela física quântica universal.
Teu cheiro desliza pelo meu suor
e se derrama em profundas cascatas
pelas escarpas de meus olhos,
quando nas noites insones
brinco de fazer chuva de lágrimas
sobre o deserto da minha saudade...
É nesta hora, amor,
que inicio meu mítico ritual
de todos os finais de dia;
invocando cada átomo peregrino
para formar teu holograma
pela noite adentro,
onde me refugio para declamar
a canção que fiz pra ti...
E então...

ENTÃO TU VENS...
NÃO! TU NÃO VENS,
TU FLUTUAS
COMO SATURNO E SUAS LUAS
COM SEU BRILHO E SEUS ANÉIS
TENS O APERTO DAS MORÇAS
FLUTUAS COM A LEVEZA DAS CORSAS
E A FORÇA DE MUITOS CORCÉIS
TRAZES FÚRIAS DE MIL CICLONES
E A VIGÍLIA DE NOITES INSONES
DE BATALHAS SEM LAURÉIS...

TU VENS...
NÃO! TU NÃO VENS...
TU FLUTUAS!!!
E MEU QUARTO É A TUA RUA!
EM TEU ANDAR HÁ MAGIA
MESCLADA COM CALMARIAS
EM CONTRAPONTO AOS VENDAVAIS...
E COMO MERA TRANSEUNTE
FINGES-TE DE SER AUSENTE
QUANDO ESTÁS PERTO DEMAIS!!!

AGREGAS-TE A MIM
COMO POR OSMOSE
ÉS MEIGA METAMORFOSE
ENFEITANDO MEUS UMBRAIS...
E NESTE ESTRANHO TORPOR
ACORDO COM TEU CALOR
E ENTÃO... ENTÃO AMOR...
...NÃO DURMO MAIS!!!

sábado, 30 de outubro de 2010

FARÓIS - Ari Pinheiro

(Foto: Ari Pinheiro)

EM PLENO MAR PROCELOSO
ENTRE RAIOS E VAGALHÕES
NO OCEANO DAS EMOÇÕES
COM MEU CORAÇÃO RESSENTIDO
NAVE DE LEME PARTIDO
ENTRE ONDAS COLOSSAIS
PRONTA A IR A PIQUE
JUNTO AOS SERES ABISSAIS...

ESTE ERA EU NAVEGANDO
E JÁ QUASE NAUFRAGANDO
NO ABISMO DA SOLIDÃO
QUANDO ENTRE AS ONDAS FURIOSAS
VI DOIS FAROIS RELUZENTES
VI DOIS LUMES DIFERENTES
ME INDICANDO A DIREÇÃO...

ESQUECI AS VAGAS FREMENTES
IGNOREI OS PERIGOS
DECIDI SEGUIR CONTIGO
PARA A PRAIA LOGO ADIANTE
HOJE DESCANSO CONFIANTE
EM TEU COLO, MEU ABRIGO
JÁ NÃO VAGO MAIS ERRANTE
POIS TEU LUME ME CONDUZ
MINHA ROTA É DIFERENTE
E OS DOIS FARÓIS RELUZENTES
SÃO OS OLHOS DE JESUS!!!

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

DAS REFLEXÕES DE UMA PAIXÃO – Ari Pinheiro

(Foto: Ari Pinheiro)

Há muitas luas que eu te amo...
Há muitas luas que venho te observando de longe,
De perto, ao redor de ti...

Malgrado os dias em que acordas
De mau humor e sequer lembras
Que eu existo, sigo fiel e insisto
No meu amor incondicional
De muitas luas, tantas luas...

Sabes... teve um dia
Quando ainda eras semente pequenina
No ventre de tua mãe e ela cogitou
A idéia de não nasceres...
Lembro que sofri, chorei de dor,
Pois desde lá eu já te amava,
Te queria e te desejava
Com uma paixão que só os anjos conhecem...

Há muitas luas que eu te amo
E te dedico o melhor de mim...
Quantas vezes velei teu sono
E quando tinhas sonhos ruins
Procurava te presentear
Com um amanhecer dourado
Que muitas vezes nem vias...

Houve um dia em que caíste
Ralaste o joelho... lembro que senti
A mesma dor que tu... Noutro tempo
Tiveste a primeira desilusão de amor, e eu,
Que sofro isso todos os dias;
Chorei todas as tuas lágrimas
E me escondi contigo quando fostes
Soluçar a sós no quintal...

E hoje, quando olhas para cima
E perguntas aos céus se eu existo
Posso te responder com a mesma serenidade
De quem sempre esteve o teu lado...

Há muitas luas que eu te amo;
Há muitas luas que eu te quero;
Há muitas luas que ressuscitei por ti...
Sou Jesus Cristo, filho de Deus
E há muitas luas que te esperava...

Porque eu te amo incondicionalmente,
Há muitas luas, há muitas luas!!!

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

AO MEU AMIGO/IRMÃO JOÃO BATISTA

AO MEU AMIGO/IRMÃO JOÃO BATISTA

João Batista, evangelista
Homem todo coração
João, um irmão, amigo de valor
Sorriso largo de chegada
Braços de abraçar sempre
Mãos de curar e tirar a dor
João tinha muitos sonhos
E por isso sonhador...
João, o marido da Bia
Seu grande sonho de amor!!!

Incompreendido por muitos
Que não entendiam sua dor
Frente às injustiças
Que o fizeram sofredor
Mas que foram alicerce
Para formar o vencedor
Que hoje descansa sereno
Nos braços de Nosso Senhor!

Foi morar no céu o João
Meu irmão, marido da Bia
Em mim aumentou o vazio
Que há muito tempo eu sentia
Pois tua partida me mostrou
Que eu te amava
Muito mais do que eu sabia!!!

sábado, 31 de julho de 2010

ATÉ QUANDO?


ATÉ QUANDO?
(Ari Pinheiro)

Por quanto tempo
Ainda teremos que esperar
Que o futuro
Venha eclodir do chão
Se tudo o que se faz
Puxa-nos para trás
Aonde o barco
Perdeu-se na cerração...

Quando virá
O novo tempo de colher
Uma vida farta
Para a mesa do peão
Se tudo o que se faz
Puxa-nos para trás
Onde a ganância
Já suplantou a razão...

Por onde andará
O velho e bom anjo dos sonhos
Que sempre vinha
Nos dias de viração
Se tudo que se faz
Puxa-nos para trás
E até os sonhos
Perderam-se na amplidão...

Quando brilhará
Ao sol dourado da manhã
A face luzidia
Do Divino Capitão
E o amor veraz
Compondo hinos de paz
Com cestos de fartura
Pras fomes da multidão!!!

NA CASA DE POTIFAR


NA CASA DE POTIFAR
(Ari Pinheiro)

De repente
A serpente se ergue
Na casa de Potifar
Que é preciso parar um homem
Um escolhido de Deus...
A mulher-serpente
Inocula o veneno
Que era para o ungido
Na mente atordoado
Do príncipe, seu marido...

Sem defesas aparentes
José enfrenta a masmorra
Onde aos olhos humanos
Já não há quem lhe socorra
Não cedeu
Aos efêmeros encantos
Para ela
É melhor que ele morra!

Mal sabia a infiel
Que ao tentar um escolhido
Acordou as hostes dos céus
E Deus ficou compungido
José não se turbou
Ou alterou o semblante
Sempre creu num Deus maior
Na luta seguiu confiante
Já que a glória do soldado
Depende do comandante!

E justo em hora difícil
Potifar ficou aflito
E José sai da cadeia
Pra matar a fome do Egito
Mais tarde é governador
Pra honra e glória de Deus
Com sabedoria e justiça
Também mata a fome dos seus...
De seu pai e seus parentes
A até mesmo de quem
Como escravo lhe vendeu!

É este o Deus de quem falo
Que não me deixa calado
Pois não tolera injustiça
Reabilita o injustiçado
Um escravo e presidiário
Transforma em chefe de estado!!!

sexta-feira, 30 de julho de 2010

A CAMINHO DE NAIM


Lá dos muros de Naim

Sai o féretro cruel

A multidão dolorida

Vai cumprindo seu papel

De prantear na tarde empoeirada

Onde a morte montou quartel...


Uma viúva desesperada

Vai cumprindo seu mistério

de entregar seu único filho

aos muros do cemitério...


Mas na direção contrária

Existe outra multidão

Um exército de louvores

Seguindo seu capitão

Se de um lado só tem luto

Mulher e homem chorando

Do outro só tem vitória

Nukher e homem cantando

Numa procissão de fé

De olhos fitos no Mestre

Jesus Cristo de Nazaré!


Encontram-se!!! Canto e louvor

Com o luto e comoção

E Jesus, o galileu

Com íntima compaixão

Brada na angústia da tarde

Com sua voz de trovão:

- Podem parar o enterro!

O jovem sai do caixão

Volta pela mesma trilha

Com os amigos e a família

Onde o nome de Jesus Brilha

A morte não reina não!


domingo, 25 de julho de 2010

NO COLO DE DEUS


NO COLO DE DEUS
(Ari Pinheiro)

Um dia peguei carona
Nas notas de uma canção
Destas que tornam nobre
A função do diapasão
Voei além das estrelas
Passei além da emoção
Ultrapassei os portais
Dos infinitos siderais
Para fugir da solidão...

Ciente de que meu vôo
Faria-me mais distante
Evitei o retrocesso
E fui seguindo adiante
Sabia do meu destino
Informação relevante
E meu vôo sideral
Trouxe-me ao último portal
Onde reina a Luz Radiante!

Nunca houve despedida
Que o amor me une aos meus
Por isso vim para cá
Sem ao menos dizer adeus
Tchau é sempre um até breve
Pra quem vive longe dos seus
Minha alma vivia a chorar
Por isso vim descansar
No colo quente de Deus!

sábado, 24 de julho de 2010

QUANDO DEUS SE LEVANTA


QUANDO DEUS SE LEVANTA
(Ari Pinheiro)

Existem momentos na vida
Que nos fazem esmorecer
Parece que o mundo desaba
E que tudo vai fenecer
Então brota nos lábios uma prece
Derramamos nosso ser
Regamos o jardim da esperança
Para o amor renascer...

E Deus se levanta do trono
E manda glória do céu
Pois seu coração se derrete
Com o pranto do crente fiel!!!

Quando a tempestade passa
E o sol mostra seu brilho
A vida retoma seu curso
Quando o trem está nos trilhos
Em nosso peito a cantiga
Possui um novo estribilho
E o Pai é o tema central
Da canção na boca dos filhos...

E Deus se levanta do trono
E manda glória do céu
Pois seu coração se derrete
Com o cântico do crente fiel!!!

sexta-feira, 23 de julho de 2010

NA HORA NONA


NA HORA NONA
(Ari Pinheiro)

Próximo a hora nona
Lá está uma mão estendida
De quem nada espera
Ou espera pouco da vida
Nada mais que alguns tostões
Moedas de ouro talvez
Qualquer caridade possível
Bem ao gosto do freguês...

Na hora nona, hora da prece
Passos apressados
Quem olha finge que não vê
Ou então, disfarçando,
Passa de lado...
Até que alguém
Muda a trajetória
Toma atitude
E reescreve a história...

“Não temos prata nem ouro...”
(suprema decepção...)
“Mas o que temos...”
(reascende a esperança!)
“Isso te dou!”

Não tilintam dracmas
Nos bolsos de Pedro
Nem há sestércios
No alforje de João...
Mas há um milagre chegando
Num brado de unção!

“-Em nome de Jesus Cristo, o nazareno,
Levanta-te e anda!!!”

É milagre!
Não! É normal quando
É Deus quem comanda!

Aonde iam dois
Agora são três
E o nome de Jesus
Foi glorificado outra vez!

NA ESTRADA DE DAMASCO


NA ESTRADA DE DAMASCO
(Ari Pinheiro)

Montado a cavalo
Com a fúria nos olhos
Um mercenário vai a Damasco...
É tempo de caça
E ele tem cartas
Para prender e maltratar
Um povo que louva em meio a luta
Um povo que cresce
E o império se assusta!
Uma luz no caminho
E o inferno estremece,
Uma voz estridente
Ecoa na tarde...
Homem e cavalo
Sucumbem no chão...
Saulo de Tarso
Valente entre os valentes
Tateia no escuro
Com olhos nublados...

“Saulo, Saulo, porque me persegues?”

Quem nasce marcado
Para ser vencedor
Não encontra maneiras
De se esconder
Que se Deus decidiu
É só esperar
Que no momento certo
Ele faz acontecer!!!
Ananias recebe Saulo e despede Paulo
Uma metamorfose
Operada por Deus
O qual nunca falha
E nem desampara
Quem é filho seu...
Do zelote furioso e revolucionário
Que para Damasco um dia partiu
Deus fez o pregador visionário
O maior missionário
Que o mundo já viu!!!

UMA PEQUENA NUVEM


UMA PEQUENA NUVEM
(Ari Pinheiro)

Há seca na terra e o povo tem fome
E o profeta sabe o que Deus vai fazer
Corações ressequidos ignoram sinais
Mas o homem de Deus diz que vai chover...


O moço obediente volta calado
Sem saber o que dizer
Pois a nuvem que viu é tão diminuta
Que milagre vir dela não se pode antever...

“Eu vejo uma pequena nuvem
Do tamanho da mão de um homem...”

Declara o mancebo quase a esmorecer
E o profeta proclama:
“Este é o sinal de que a chuva vai descer!!!”
Deus falou, tá falado,
Se disse que faria é só esperar,
Ele vai fazer!!!

domingo, 18 de julho de 2010

LONGE DE UR


LONGE DE UR (Ari Pinheiro)

Do outro lado do mundo
Na distante Caldéia um homem
Pensa...
Um convite com ares de ordem
Com jeito de bênção, com cheiro de unção...

“Sai da tua terra, do meio da tua parentela
E vai para a terra que eu te mostrar...”

De repente Ur se faz saudade e o deserto
Se faz estrada... Nela um homem se faz de viagem
Abrindo caminhos no rumo do nada; e descobre
que o nada com Deus é muito!

“Eu farei de ti uma grande nação...”

Longe da caldéia, longe de Ur
Um homem pensa...
E uma mulher impensadamente
Se ri... “Eu, avançada de idade, nem as regras
normais das mulheres eu tenho...
Como parir uma grande nação...?”

Longe da Caldéia, Longe de Ur, longe da terra
Deus ri da insensatez de Saraí...
O Senhor do tempo, Deus forte, Pai da eternidade
Abençoa Agar e depois torna fértil
A mulher centenária...

Abraão, longe da caldéia, longe de Ur
E perto de Deus vê Ismael ser Flexeiro e Isaque
Crescer e frutificar...
Entre montes e outeiros o deserto floresce
E se torna berçário de duas grandes nações...

O filho da promessa hoje é povo de Deus
Nação eleita, céu da Estrela de Davi
Solo fecundo da Raiz de Jessé!!!

Hoje eu, longe da Caldéia, longe de Ur
Distante da minha terra e dos meus
De joelhos me prostro para agradecer
A filiação adotiva
Que me fez renascer
E aprender que o deserto
É a escola de Deus
Onde o oásis da fé
Só nos faz florescer,
Frutificar e crescer!!!

QUANDO UM GAÚCHO CANTA O CAMPO


QUANDO UM GAÚCHO CANTA O CAMPO
Ari pinheiro
Poema vencedor do 45 Rodeio da
Estância da Poesia Crioula (junho/2010)

Quando um gaúcho canta o campo
Num acalanto nina sua própria dor
Que indormida sonha acordes de guitarra
E pede calma ao coração corcoveador
Quando um gaúcho canta o campo
Canta o encanto que é luz pra o cantador
Etéreo lume razão de ser do vagalume
Almas antigas “alumiando” o corredor...

Quando um gaúcho canta o campo
Derrama a vida entre as cordas do violão
E a dura lida que demarcou cicatrizes
Ganha matizes se vestindo de amplidão
Quando um gaúcho canta o campo
Solta seu grito na garganta dos tajãs (Tarrãns)
Cantam cardeais, sabiás e cotovias
E a utopia vem acordar as manhãs

Quando um gaúcho canta o campo
Mirando a estrada no rastro de quem se foi
Tem sal nos olhos temperando sulcos fundos
De quem vê o mundo cruzando a passo de boi
Quando um gaúcho canta o campo
Sua garganta é cancela escancarada
É mata-burro desafiando a realidade
Onde a cidade plantou porteiras fechadas

Quando um gaúcho canta o campo
Sou eu pedindo pra viver um outro tanto
É minha alma que cansada pede colo
Sou eu que vago na garupa do seu canto
Quando um gaúcho canta o campo
Espalha cheiros de arnica e alecrim
Mal sabe ele que a sua voz afinada
Canta saudades que vivem dentro de mim...

VOLÚPIA


Volúpia (Ari Pinheiro)

Quando a noite chega
O sono se vai
E minh’alma sai
Em busca da tua
Então voluteio
pela madrugada
em busca da amada
sob a luz da lua...

O trinar do grilo
Um chilrear distante
Eu vagando errante
Navego ansiedade
E me sinto assim
Pássaro sozinho
Que fez o seu ninho
Na tua saudade...

Vales, rios e florestas
São pano de fundo
Deste estranho mundo
Que criei pra nós
De onde só saio
Se estou ao teu lado
Sendo acariciado
Pela tua voz!!!

PASSAGEIROS DA AGONIA


PASSAGEIROS DA AGONIA (Ari Pinheiro)

Da noite o etéreo manto foi-se
Que a aurora veio luzidia
Quem dera as mágoas também fossem
Morar lá onde morre o dia...

E não voltassem nunca mais
Tisnar as dobras das manhãs
Tingir de gris meus madrigais
Calando o canto dos Tajãs...

Eu sei que os sonhos já sonhados
E os mares nunca dantes navegados
Seriam temas para poesia...

E lá do atol dos afogados
Brotariam, ressuscitados
Os passageiros da agonia!!!

SOBRE ONTEM A NOITE


SOBRE ONTEM A NOITE (Ari Pinheiro)

Ontem eu sonhei
E a porta do sonho no túnel do tempo
Abriu-me outra porta
De um outro tempo
Bem além de nós...

Numa praia deserta
Vi os beijos e os passos que não demos...
Vi as juras que não trocamos
E os filhos que não tivemos...
Estavam lá, lindos como sonhamos:
Os beijos, as juras, os passos
E os filhos, e nós, os dois juntinhos
Amando-nos como dois pombinhos
Que até a lua nos invejava o brilho!

Ontem eu sonhei
E aporta do sonho no túnel do tempo
Abriu-me outra porta, de um outro tempo,
Bem além de nós...

Lá, bem além do horizonte do dia
Onde o sol se afoga no oceano da utopia
Estavas tu e estava eu,
Estávamos nós...
Eu dentro do teu coração
E tu, aconchegada no meu...
Viajávamos abraçados
Pelo mar da vida, felizes,
Velejando a nau da paixão...

Hoje eu despertei!
E a janela da aurora
Abriu-me outra janela
De um outro tempo
Que já não é o nosso...

O dia me disse que nem tudo é sonho...
Que o amor que fizemos
Os carinhos que trocamos
E os DRs que tivemos
Tudo enfim é vida em flor
Jardim divino
Onde fiquei recluso
Prisioneiro de teu amor!!!

POEMA VAZIO


POEMA VAZIO (Ari Pinheiro)

Hoje eu parei para compor um poema...
Dei um tempo no trabalho,
Nas mágoas, na saudade;
Dei um tempo de tudo e todos...
Até mesmo a alegria coloquei de lado
Arregacei as minhas velas
E me fiz ao largo...

Como eu não queria nada muito intimista
Coloquei-me de lado também
(supremo erro!)
E comecei a compor um verso
Outro verso, e mais algumas linhas
De um poema vazio...

Sim vazio como o mar aberto
Pois enquanto a pena deslizava sobre o papel
Descobri que sem trabalho
Dor
Alegria
Amor
Mágoas e saudades
Não se escreve nada!

Sem uma pitada do todo
Desse tudo mar que nos rodeia
Sem a contribuição
De quem passa, está ou passou por nós
Não tem como fazer um verso
Com poesia...

Um verso sem gente
Sem a gente, sem agente
Sem dor
Alegria
Calor ou frio
Pode até ser lido por muita gente
Mas nunca passará
De um poema vazio...

Assim voltei à praia
Rasguei o papel, peguei outra folha
E outra onda, e mais outra
E com a tinta de minhas vivências
Comecei tudo de novo!!!

NAQUELE DIA


NAQUELE DIA (Ari Pinheiro)

Naquele dia que eu te vi
Foi como uma cachoeira
Desaguando em mim!
Miragem de um oásis
Ao entardecer
Senti a vida tão perto
Como se o deserto
Fosse grama verde, enfim...

Naquele dia que eu te vi
Meus lábios tremeram
Pela força de tanta emoção
Vi a aurora de um novo alvorecer
E sonidos de ciranda
Como canções de varanda
Musicando a tarde
Do meu coração...

Naquele dia que eu te vi
Foi como se o mundo
Se abrisse assim...
Como colcha bordada
Coberta enfeitada
Só de bem querer
Para espantar o frio
Que habitava em mim...

Naquele dia que eu te vi
Colhi no teu sorriso
O mel que todo homem quer
Fiz juras secretas
De para sempre de querer
Não importando o que vier
Viverei para desvendar
Os teus segredos de mulher...

DE LUA MINGUANTE


DE LUA MINGUANTE (Ari Pinheiro)

Mas quem foi que disse
Saudade não mata
Mas que alma ingrata
Sem conhecimento
Pois quem tem saudade
Vaga por aí
Igual a um zumbi
Com a morte por dentro...

E o punhal da noite
De lua minguante
É o mais cortante
Que já conheci
Pois enquanto canto
A ausência tua
Nem a luz da lua
Vem brilhar aqui...

Somente as estrelas
Sabem do tormento
Do triste lamento
Deste verso frio
Onde a alma chora
Na noite sem lua
A saudade tua
Num leito vazio...

Ainda bem que as trevas
Sempre vão embora
E a alma que chora
Tem um novo afã
Pois quem ama espera
A volta da amada
De sol enfeitada
Na luz da manhã!

CONTIGO APRENDI


CONTIGO APRENDI (Ari Pinheiro)

Contigo aprendi
Que a dor da saudade
É apenas a forma
De apressar o encontro
Pois a vontade de ti
Nesta soledade
Em amor se transforma
Quando temos um ao outro...

Contigo aprendi
Que a vida é melhor
Se o pó das distâncias
Faz caminhos de volta...
Pois o que tenho aqui
É o aroma da flor
Meu suor, tuas ânsias
Onde a mente se solta

Contigo aprendi
Que esperar é uma ciência
Estranha alquimia
Voluteando no espaço...
Enquanto estás aí
Eu aprendo a paciência
E a filosofia
De esperar teus abraços!

Contigo aprendi
Que Deus é poeta
E exercita a porfia
No teu doce regaço
Pois nos teus olhos eu li
Páginas cheias, repletas,
De pura poesia
Escrita em teus traços!!!

DESOLAÇÃ0


DESOLAÇÃO (Ari Pinheiro)

Hoje sem querer escutei teu choro
Senti o gosto de tuas lágrimas
Mesmo aqui, tão distante...
O vento andarilho me contou
Dos tremores do teu corpo
E me mostrou as feridas
De um coração que sangra...

A praia deserta me mostrou passos antigos
De um tempo velho
Quando que ainda caminhavas comigo...

Então a minha dor misturou-se com tua
E eu me contorci e chorei
Prostrado sob a luz da lua...
Chorei as lágrimas tuas
Tremi os tremores teus
E do teu coração as feridas
Abriram chagas no meu...

Hoje, sem querer
Recordei nossos amores
E entendi porque nos meus versos
Nunca mais nasceram flores
É por que minha alma anda estéril
Assolada por nossas dores!!!

NA TAÇA DO TEU UMBIGO


NA TAÇA DO TEU UMBIGO (Ari Pinheiro)

A sombra de um jasmineiro
Que este ano não floriu
Recordo alguém que partiu
Com beijos açucarados
Quem dera não ter beijado
Aquela boca, aquele rosto
Provado o suco, o néctar, o mosto
E tudo que provei em ti
Hoje eu não estaria aqui
Mateando tanto desgosto...

A vida é fardo pesado
A quem falta parceria
São lentas as horas do dia
Na vida de um solitário
Nem o tempo é solidário
Pois só faz aumentar a dor
E este estranho torpor
Que nos rouba paz e calma
Sulca buracos na alma
De quem sofre por amor...

Nem mesmo as musas celestes
Que habitam a imensidão
Puderam entender a razão
De tão estranha partida
E tentam curar as feridas
Intuindo versos pelos ares
Mas são tristes meus cantares
Que a alegria se fez de viagem
E só florescerá na paisagem
No dia em que tu voltares...

E se não voltares querida
Que tristes os dias meus
Não ver meus olhos nos teus
É a suma soledade
Dor suprema da saudade
De quando andavas comigo
Duro e perpétuo castigo
Para esta alma sem guarida
Que já bebeu gotas de vida
Na taça do teu umbigo!!!